Assim como um bebê reborn, O Ensaio (The Rehearsal, HBO Max) não é uma série fácil de explicar. Como o atento ledor já deve saber, os reborn são bonecos hiper realistas feitos de silicone, que copiam, com detalhes um tanto desconcertantes, as dobrinhas, cabelos, cílios, veias e até sinais na pele de um bebê recém nascido.
O Ensaio, série criada, dirigida e estrelada por Nathan Fielder, tenta, com precisão igualmente obsessiva, replicar cenários como casas, aeroportos, escolas e programas de auditório para tentar provar que tanto o comportamento humano quanto as emoções podem ser simuladas e controladas.
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E se eu dissesse aquilo de outro jeito? E se eu voltasse no tempo e mudasse uma pequena ação? Além de questões que levo a terapia, também fazem parte da premissa da primeira temporada de 2022, quando O Ensaio estreou e revelou a maneira desconcertante de Nathan Fielder canalizar sua neurose.
Fielder encenou a vida como se fosse um ensaio antes da estreia, um roteiro onde cada gesto e emoção pudessem ser testados. Um dos episódios envolvia uma mulher refletindo sobre a maternidade, e ele acabou assumindo o papel de pai de uma criança real e que envelhecia a cada episódio, com atores diferentes para simular as fases da vida. Aqui, o gênio está na criação dos cenários e na precisão com que ele interpreta sua própria persona: um produtor incapaz de expressar qualquer emoção.
Nessa segunda temporada o sarrafo sobe ainda mais no desejo de simular sentimentos e treinar para evitar dores e falhas antes que elas aconteçam. Tudo a serviço de um objetivo aparentemente nobre: a segurança na aviação. Dessa vez, foi recriado em tamanho real o cockpit de um avião para simular falhas de comunicação entre pilotos e copilotos. Praticamente um reborn em escala industrial.
No episódio "Pilot's Code", Nathan Fielder reconstrói com precisão a trajetória do capitão Chesley "Sully" Sullenberger, o piloto que ganhou fama mundial após pousar com sucesso um avião no rio Hudson, em Nova York. Em uma série de experimentos intrincados, desde recriar as condições de vida de um cão de 2011, ele também incorpora momentos da infância de Sully e investiga se qualidades como empatia e heroísmo podem ser de fato ensinados.
Se você nunca viu O Ensaio ou tem alergia a comédia com cara de experimento social mal resolvido, é normal achar tudo isso insuportável. E é mesmo. Talvez você tenha razão. Para justificar o orçamento para HBO de que se trata de uma série de comédia, Fielder diz que é preciso haver coisas engraçadas acontecendo ao longo do caminho. Mas, nessas réplicas da vida, há sempre um descompasso, um silêncio constrangedor, uma hesitação ou, já que a tentativa aqui é simular a boa escrita, alguma coisa como a alma da comédia tingida de tristeza.