A cidade sob o sol inda fresco da aurora. Perdura uma calma aturdida, um sossego de folhas e nada. As praças e ruas estão ermas. Esse vento nos lava.
Entre risos e litros, alguém se dá conta: onde estamos podemos falar e gritar, que ninguém nos escuta. Tu pareces a nuvem entrevista entre os ramos.
É chegado o momento em que tudo se firma e matura. Essa é a hora em que todos deviam parar nas estradas e ver como tudo matura. O ar imóvel se abre ao alento de quem vai falar mas a palavra é inútil, o lamento é inútil.
As lembranças começam ao fim da tarde. F1 no toté do prédio e observar de lá a cidade. Luzes ao longe, automóveis. Quando a vida se resumia em comer macarrão, alugar sete filmes. Assistir, rebobinar, devolver. Comentar com os amigos na rua.
As lembranças serão uns punhados de sombra consumidos, assim como velhas brasas na lareira. Cada olhar que retorna conserva um gosto de paisagem e coisa curtida ao sol numa tarde de praia. Mudaram as cores do mundo.
A noite caía, se metiam na cama. Se abraçam sem pressa. É delgada e acre como um rapaz, mas o sono é de moça. Entrava pela janela um cheiro de incenso. Lavanda, Masala, ou Gleid. Recompor-se nos olhos do outro. Na face serena, o sorriso de sempre.