Seleção Feminina
Taty Pink, Iza, Luê, Nina do Porte e Duquesa. Cinco cantoras que você deve ou deveria conhecer.
Taty Pink
Top do arrocha, o hit de Taty Pink (MA) “Antes de ir” é de 2021, mas só conheci agora graças a Myra Mara (RJ), Anette Carla (PE) e Marara Kelly (PA), DJs que há seis anos promovem um bailão de tecnobrega, funk melody, piseiro, forró e saudades na festa “Xepa” no Rio de Janeiro.
Grudenta e doce feito uma batida sabor chiclete, “Antes de ir” é um clássico instantâneo. Perfeita para todos os momentos, mas principalmente nos rolês que te conduzem para o bico do corvo: por volta de quatro da manhã, todos os seus amigos foram embora e você decidiu ficar pra desenrolar com alguém que te ofereceu uma água amarga e você bebeu. A coisa se desenvolve mas bate mesmo é no refrão:
“Então antes de ir / me diga que vai lembrar dos meus beijos todo dia / que vai sentir saudades da minha companhia”
Para qualquer coração em desalinho, o gatilho é imediato. É a quintessência da sofrência. Todo um estilo musical construído em torno de refrões matadores como em “Ainda Dói”:
“Ainda dói ver você nas revoadas por aí / Ai como dói ver que você tá tão feliz / Sem mim, Sem mim/ Eu consegui te perder pra mim”
Taty Pink carrega uma melancolia, um romantismo exacerbado, uma indulgência solitária e pode ser apenas um flashback de água amarga, mas imagino que em algum lugar do multiverso do dream pop/modão goth lançaram um feat com Robert Smith: “Go on, go on / just walk away / Go on, go on / your choice is made”.
Ouça no volume máximo com uma caixa de Kleenex por perto.
Iza
Iza despontou em 2018 com a novidade que faltava no pop nacional: clima dancehall Jahmeika nice, dubom perfumando o ambiente, uma voz portentosa de base R&B e que nos lembra o tempo todo, com serenidade e papo reto, que ela é a dona da porra toda. E é mesmo.
Sempre me quebra na ideia com “Meu Talismã”, “Pesadão” e “Brisa" prediletas daqui de casa desde sempre. “Afrodhit” é o seu segundo álbum que já rasga com “ou fica pra vida toda ou pra nunca mais”
, arranjo de Artur Verocai. Na sequência, emenda com “Fé nas Maluca” feat Mc Carol.
"021 da braba / melanina cara, é o gueto na Forbes/ Se eu quero, não mudo de ideia / Sou bagulho doido / Trem bala é a bossy”
Cheio de hits pista bombando como “Fiu Fiu”, “Bombasstic” e “Sintoniza”. Porém, como sou mais do povo da seresta/darkwave, aprecio a Iza merencória da já citada “Nunca Mais” e “Uma Vida É Pouco Pra Te Amar” que fecha o disco.
Entra na frente desse trem, entra.
Luê
Confesso que sou obcecado pelas sugestões de um famoso serviço de streaming de música e descobri Luê num desses rolês.
Luê, natural do Pará, é cantora e violinista. Esse ano lançou “091", um EP de seis músicas plenas de retumbão, marabaixo e boi-bumbá, os ritmos do norte.
Filha de Junior Soares, fundador - com Ronaldo Silva e Rui Baldez - do grupo “Arraial do Pavulagem”, dedicado a valorização da cultura popular e Patrimônio Cultural de Belém.
É um registro certeiro, onde o bordão “menos é mais” se aplica em arranjos delicados de cordas e percussão. Luê representa um remanso hospitaleiro, um sossego da babilônia e, talvez por isso, o engatilhamento se apresente através do diálogo direto com minhas raízes amazônicas.
Hit the north.
N.I.N.A do Porte
Pesquisadora musical, DJ e um dos maiores nomes da cena Grime e Drill do Rio de Janeiro. O flow papo retíssimo da N.I.N.A e sua persona artística “A bruta, a braba, a forte”, pegou demais aqui. Como em “Stephen King”:
Não me afeta em nada, se tu é o terror das safada / Eu sou a Stephen King das mina mandada / Com a lírica sincronizada, as verdade cantando / A sequência igual Glock rajada
Se você também boiou quando o assunto é “grime” e “drill”, antes de sair googlando deixa eu te dar uma mãozinha. São vertentes de um rap mais pesadão e soturno.
Se cobra mata abraçando / Te apresento o abraço da morte /
Enquanto tu vem rastejando, de cima do galho eu armo meu bote/Não mexe comigo piranha / Não é à toa que eu vivo no porte/Pergunta pros mano da firma / Quem é essa Nina?/ A bruta, a braba, a forte
Bolado.
Duquesa
E pra se entender, de uma vez por todas, que a casa caiu pro seu governo, e agora são novos atores e atrizes sociais e culturais da cena, logo nos primeiros versos de “Taurus”, primeiro disco de Duquesa, da Bahia para o mundo, ela lança “Mais fúria, fria, astuta”
pra seguir em uma sequência hipnótica de rap, trap e R&B.
Apresenta sua carta de intenções na faixa “Big D!!!”
Já taria milionária se eu fosse mais clarinha / Contratante que me chama, quer que eu quebre sua casinha / Ando de cara fechada, mano, eu não tô pra gracinha / Segurança tá zangado, pode quebrar sua carinha
Já no hit “Taurus”, Duquesa segue com, praticamente, um projeto educacional:
Eu tô malhando tanto / Pareço a Gracyanne / Não me manda mensagem que eu tô online e metendo / Olha pro meu bíceps /Aumentando o tríceps / Seu presente vai ser / Uma hora de porrada / De tanto aguentar sua rima fraca
E pra fechar, “99 Problemas” nasce um clássico do que um dia se chamou de proibidão:
No RJ tem pica, em SP tem pica / Em BH tem pica, sempre vai ter pica / Noventa e nove problemas de uma negra bonita / Pica não tá na lista, pica não tá na lista
Visão.