Com os rostos dos integrantes da banda inseridos no quadro “A Balsa da Medusa” de Théodore Géricault e uma citação da frase de Winston Churchill: “Se quiser falar sobre nossas tradições náuticas, é nada menos que rum, sodomia e chicote.” Compõem a capa do álbum Rum Sodomy and the Lash, de 1985, produzido por Elvis Costello, da banda irlandesa de folk punk, The Pogues.
No último 30 de novembro, o vocalista, letrista, poeta e fundador da banda, Shane MacGowan, faleceu por problemas associados a bebida.
Essa notícia me pegou demais. Eu não sabia o quanto a poesia e o som dos Pogues - junto com Nick Cave, The Smiths, The Cure e The Fall - ainda reverberam em mim desde a mais tenra adolescência.
Já fui como o jovem Shane MacGowan buscando alento em quadrinhos e música
Acometido por “memórias involuntárias”, lembranças despertadas por sensações, tal e qual a degustação de uma madeleine proustiana, repassei toda, ou quase toda, a discografia dos Pogues. Reencontrei tesouros inestimáveis: A Pair of Brown Eyes, Dirty Old Town, A Rainy Night in Soho, Streams of Whiskey, Lorca's Novena, Fiesta, London You're A Lady e outras mais.
Toda a aura de ascensão ao misticismo pelo folk é desconstruída pela banda. A conexão acontece através das letras cheias de imagens que representam a vida do homem comum, a herança operária, os imigrantes, os bêbados e um sentimento de um grupo unido em torno da música, da celebração e de muito uísque.
Um exemplo da “vulgaridade honesta” dos Pogues, é um dueto de Shane MacGowan e a cantora Kristy MacColl no clássico e controverso hit de Natal "Fairytale of New York City”. Lançada em 1987, a música conta a história de dois amantes que se agridem violentamente um contra o outro na véspera de Natal.
Com as celebrações natalinas chegando, algumas rádios na Europa se recusaram a tocar a música, depois de acusações de misoginia e homofobia na canção, a não ser que a letra fosse modificada ou bleepada com o “pi” de censura.
Em entrevista, Shane contou que escreveu a letra pensando em dois personagens em desespero. Dois imigrantes bêbados em Nova York. “Cheios de raiva, insultos e calúnias que surgem depois de anos de casamento e afloram no Natal. Mas tudo bem mudar a letra se for para mais pessoas ouvirem.”
“Happy Christmas, your arse, I pray God it’s our last.”
Já assinou, curtiu ou comentou? Nick e Shane estão de olho!