Antes que acusem essa Newsletter de propaganda enganosa ou de se utilizar de chamadas sensacionalistas para atrair cliques, não vou responder nem que sim, nem que não a essas acusações. Vou responder talvez. Talvez estejam certos.
Entretanto, o título dessa edição é apenas a tradução literal de Psychedelic Orgasm, uma das vigorosas canções de “The Collective”, o novo da Kim Gordon - Indicado ao Grammy de 2025 na categoria Melhor Álbum de Música Alternativa - e que será devidamente resenhado logo menos, se você, caro leitor, seguir com o texto.
Nessa edição de Outras Considerações, você também vai encontrar o exercício da epistolografia, a fina arte de escrever cartas, por Paulo Leminski. Depois da fuga do G20 e ainda no clima “eu quero uma casa no campo”, ofereço a você, caro leitor, o paganismo em sua essência absoluta nos versos de Alberto Caeiro. É isso.
1 - Caminhos do Noise
O Brasil, para além dos golpes e contragolpes na política, também é um capítulo simbólico na história do Sonic Youth. A banda praticamente encerrou suas atividades por aqui, no Festival SWU, em 2011. Esse show marcou o fim de uma era para todos aqueles que, assim como eu, testemunharam uma das últimas apresentações de um grupo que transformou o rock alternativo em fenômeno global.
Em sua autobiografia, A Garota da Banda (2015), Kim Gordon, baixista e fundadora do SY, detalha os desafios de liderar uma banda inovadora em um cenário dominado por homens. Além dos conflitos, a relação com Thurston Moore - ex-marido, guitarrista e cofundador do grupo - o processo criativo e o poder transformador da música.
Hoje, aos 70 anos, Kim Gordon, em seu segundo álbum solo, produção de Justin Raisen (Sky Ferreira, Charli XCX), é um caos organizado de batidas de trap, guitarras e letras que mais parecem fluxo de consciência ou monólogos de alguém vivendo o dia a dia: soletrar grifes, “Deixar dinheiro para a diarista", masculinidade tóxica, abuso, raiva e choro no metrô.
A última vez que vi a Kim no palco foi em São Paulo, Sesc Pinheiros, 2016, com o Body/Head, seu projeto com o guitarrista Bill Nace. Confesso que estava um pouco disperso pelo brisadeiro que amassei meia hora antes do show/performance. A onda foi bater mesmo já bem perto do final, me perdi de todo mundo e só me encontrei na Augusta.
2 - Envie Meu Dicionário
Diz a orelha escrita por Wilson Bueno:
Bem antes do email e ao mesmo tempo em que não se fazia o pleno uso do que se faz hoje do telefone, no Brasil, dois poetas tramavam e teciam, nas asas do correio aéreo nacional, um diálogo em todos os sentidos essencial. Um em seu bairro polaco de Curitiba e o outro entre a fumaça e as cinzas da metrópole paulistana, cifravam, quase em segredo, mensagens, gritos, uivos, canções, pensatas e haicais na prática da epistolagem.
Essa imersão valiosa na correspondência entre Bonvicino e Paulo Leminski, revela uma relação de amizade, colaboração literária entre os autores e um retrato vibrante do cenário literário brasileiro nos anos 1976 a 1981. Publicadas após a morte do Leminski, a edição reproduz as cartas tais como foram escritas e sem cortes.
Eu me entrego muito fácil ao primeiro impulso / exatamente porque / EU VIVO PARA FAZER POESIA / (meu trabalho é secundário) / Montei minha vida para me sobrar todo o tempo do mundo / para ficar olhando o sol se pôr / e pensar o que bem entender
3 - O Guardador de Rebanhos
E para o nosso próximo convidado, não são necessárias muitas apresentações. To know him is to love him. Senhoras e senhores, o heterônimo mais famoso de Fernando Pessoa, o guardador de rebanhos, o pastor amoroso…Alberto Caeiro.
A espantosa realidade das coisas / É a minha descoberta de todos os dias / Cada coisa é o que é / E é difícil de explicar a alguém o quanto isso me alegra / E quanto isso me basta
Basta existir para ser completo
Já considerou passar para a versão paga de Outras Considerações? Kim está de olho.