I Want My MTV
ou de como a MTV Brasil "influenciou" os influencers e abriu caminho para qualquer um ter o próprio canal.
A MTV Brasil estreou em 1990 e antes do canal se tornar um saco de gatos de reality shows, naquela época o “M” da sigla, de alguma forma, ainda significava “música”.
É com essa frase que o apresentador Fabio Massari inicia os trabalhos de contar e mostrar como foram os primeiros anos da emissora, junto com Gastão Moreira, em um especial de 4 programas, “O Lado B da MTVê” que está no YouTube.
Numa espécie de podcast afetivo, os dois rememoram como era fazer parte de uma equipe jovem, empolgada com a cena musical e com liberdade para inventar novos formatos.
Na época, ser um VJ da MTV era sinônimo de “cabeça de vento” por apenas ler um texto e apresentar uns clipes. Tudo bem. Porém, se comparar com certos influencers de hoje em dia, os caras beiram a genialidade simplesmente por trazerem nada menos que INFORMAÇÃO sem se preocupar em explicar o que você deve sentir toda vez que ouvir “Tempo Perdido” da Legião ou “Brasil” de Cazuza.
Essa primeira formação da MTV Brasil com Astrid Fontenele, Zeca Camargo, Cazé Peçanha, Fabio Massari e Gastão Moreira ficou marcada por trazer espontaneidade, entretenimento, bandas novas, Faith No More, o Grunge e o primeiro Loolapalooza quando tudo ainda era mato.
Pois, Fabio Massari e Gastão Moreira participaram da gênese de vários programas como “MTV na Estrada”, “Casa da Praia”, “Todos os Festivais do Mundo” e apresentaram, respectivamente e mais regularmente, os programas “Lado B” - com clipes de bandas independentes e algumas alternativas mas já entrando no mainstream como Sonic Youth, Smashing Pumpkins e Nirvana - e o “Fúria Metal” com o melhor do Heavy.
Essa é a deixa para voltarmos a 2023.
Por quase não se ter registros oficiais da época em que o digital ainda engatinhava, Massari e Gastão guardaram um riquíssimo material de fotos, crachás, roteiros, grades de programação, entrevistas, ensaios e passagens de som - algumas ainda em VHS - num clima meio nostálgico e uma certa tiração de onda (os caras podem).
Os dois contam, com muito bom humor, desde uma passagem de som caótica do Nirvana, um jantar com Pink Floyd, conversa com Michael Stipe sobre o livro Fábrica de Vespas do Ian Banks, a consagração do Sepultura na gringa, uma entrevista ininteligível e genial com George Clinton, uma outra desastrosa com Bon Jovi e o momento chapação no banheiro com os caras do Guns'n'Roses. Tudo registrado em fotos, vídeos e acervo pessoal.
Não que a indústria fonográfica fosse “boazinha” (nunca foi) mas fica um sentimento de “tudo é possível pois estamos apenas começando”.
Os gatilhos vem e vão e recentemente só aumentaram com a morte da Sinéad O’Connor. Um dos clipes que mais passou nesse início era com ela cantando em uma interpretação comovente em super close de “Nothing Compares to U” do Prince até verter uma lágrima. E eu, obcecado pelo fanatismo musical, vertia junto.