Clube de Leitura Patti Smith
Yago Oproprio, Patti Smith no Largo do Machado e Helena faz 6 anos
Como diria Paulinho da Viola em “Sinal Fechado”: Olá, como vai?
Eu vou indo e você, tudo bem? Essa semana, você vai encontrar por aqui: uma resenha do disco novo do rapper Yago Oproprio, uma fantasia com a cantora/escritora Patti Smith registrando suas impressões em um café no Largo do Machado e um pequeno compilado de perguntas e observações de Helena que hoje completa 6 anos.
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Agora vamos a Outras Considerações:
1. Patti Smith no Largo do Machado
O Cheirin Bão está vazio. Me instalo em meu canto, perto da área kids. Os ventiladores de teto, mesmo ligados a toda, não abrandam o calor de mais de 40 graus de Setembro. A voz metalizada de uma mulher com um microfone e um alto falante canta alguma coisa Jesus entra na minha casa difícil de entender. Está a poucos metros da entrada do Café e as pessoas passam sem se importar. Eu me ligo na melodia ruidosa e me distraio.
Estico as pernas e fico contemplando o movimento. O Largo do Machado nunca está vazio. Barracas de feira, pessoas entram e saem do metrô, panfletagem “olá, sou candidata a vereadora, vai um flyer pra conhecer minhas propostas?”, estudantes uniformizados, músicos, uma loira com minivestido de lantejoulas. Reparo que os garçons também estão de pé, vidrados na praça. Somos três observadores. Três cientistas sociais amadores. Fico até constrangida em pedir meu Bancofee (Banoffe com Café) e atrapalhar o experimento.
Um deles se virou e foi o momento de materializar minha larica. Na hora de pedir, mudei de ideia e foi só um café preto e pão integral na chapa. Abri meu caderno de anotações e não tinha reparado que um homem e uma menina de uns cinco, seis anos ocupavam uma mesa. Ela se divertia com uma voz meio ridícula que ele fazia. Fiquei olhando pra eles durante um tempo até minha cabeça pegar no tranco de novo e voltar a escrever.
E se todo dia fosse domingo? Anoto a frase dela no meu caderno. Poderia escrever infinitamente sobre crianças se já não tivesse escrito um livro chamado Just Kids. Lembrei da gravação de “Criança de Domingo” do Chico Science. A menina passou perto da minha mesa em direção à área kids. Dei um sorrisinho de oi, ela riu de volta docemente envergonhada. Quando levantei a cabeça, o homem, que devia ser o pai, estava de pé, na minha frente.
Desculpa, você é a Patti Smith ou é só alguém muito parecida com ela? E esticou um guardanapo com uma caneta. Pode dar um autógrafo? É que minha filha é muito sua fã. Sorri. Ela é uma graça, respondi e fiz um rabisco no papel, algo parecido com minha assinatura. Entreguei de volta, chegou meu café e nos despedimos. Bora, filha! A menina passou correndo de volta. Ele fez a voz ridícula novamente a menina riu e saíram em direção a praça. Paguei 60 reais por um café e fui embora puta da vida.
2. Melhor que ontem
Seguindo meu caminho/ Olhando o horizonte / Me sinto bem melhor que ontem / Pois entendi que nada é definitivo / Se eu me sinto sozinho / E saio nesse instante / Andando nunca sei pra onde / Nunca sei pra onde
Aconteceu o seguinte, enquanto procurava o que ver domingo à noite na TV, tropecei na programação do Coala Festival bem na hora do show do Yago Oproprio. Lembrei do último disco dele “Oproprio”, essa capa aí de cima, que não ouvi direito. Ainda estava apegado ao single de 2022 (!) “Imprevisto” tava andando de quebrada sendo Centro da Cidade quando cê resolveu dá um salve pelo meu radin’ eu já tenho compromisso mas posso chegar mais tarde prefiro ter você assim bem pertinho de mim que, assim, pra mim, com todo respeito, teve o mesmo impacto que “Chega de Saudade”. Juro. De leve. Ademã.
Mas, se liga. Voltando ao show, fazia uma cara que não via alguém tão à vontade no palco. Dois MCs (Yago e Gabriel Sielawa) uma DJ (Maah Fernandes) largando o aço, fi. Bases fortíssimas de boom bap, trap, bolero, mpb e outros gêneros onomatopaicos.
Yago Oproprio é um indivíduo que fala sobre o indivíduo. Aqueles pique de questões existenciais, introspecção, muito amor, falta de amor, trabalho, futuro, caminhada, postura, retidão, a impermanência, o silêncio antes da troca de assunto. Papo retíssimo, na calma, olho no olho. Cheiro da flor no ar. Intro perfeita pra pancadaria do Planet Hemp que veio na sequência encerrando o festival com sangue nozóio, mas aí também já é outro post. Aquelas coisas mais pra frente.
3. Helena faz 6 anos
Quem faz aniversário amanhã? Bert! Oi. Não, Bert! Ah Oi, Helenha Tchudo beim? Tudo, Bert. Vochê vai fachê quantios anios? Seis, Bert. E você? Tem quantos anos? Hmmmm…doish. Dois, Bert? Então você é bebê! Filha. Pai, tava falando com o Bert. Vamo deixar o Bert de lado um pouquinho? Quer suco de uva? Quero. Bert! Oi. Não, pai! O Bert!
Pai, e se todo dia fosse domingo? Hmmm…a gente iria viver passeando. Eu acho. Por que você acha isso? Eu ia tomar sorvete todo dia. Todo dia, garota? Todo dia. Pai. Oi. Você é velho? Um pouco. Você é funkeiro? Às vezes. Mas você é mais sambista? Também. E roqueiro? Eu sou roqueira sabia? É? Sim. Tenho até banda na escola. Como chama sua banda? Como chama? Qual é o nome? Ah Meninas do Rock. Pai, como é que eu vou chamar a banda? Como ela vem até aqui? Peraí, acho que aquela ali é a Patti Smith. Né possível. Quem, pai? Bert! Tô com Shono! Então dorme, Bert. Meninha Bonhita. Obrigada, Bert. Pai, posso ir ali desenhar? Pode.