Carnaval é alegria sem dono. É vapor d’água. Ou, talvez, quem sabe, um outro estado da matéria ainda não estudado. Também, quem vai estudar isso? E logo no Carnaval? Faço minhas as palavras do bárbaro Milton Cunha: o que o povo quer mesmo nesse carnaval, meu amor, é muito tchica tchica bum ti.
Um fenômeno aconteceu nesse carnaval que passou (passou mesmo?). A energia caótica das ruas foi contida por breves 5 horas. Os músicos deixaram os instrumentos de lado, os blocos guardaram o estandarte e os foliões dichavaram a cheirinho-da-loló. Todos ao mesmo tempo, como um só corpo, aboletados defronte as telas para assistir a cerimônia do Oscar. Que é uma espécie de carnaval do cinema: todos vivendo fantasias, piadas de gosto duvidoso, música alta, entorpecentes e um prêmio no final.
Ganhamos. Foi histórico e apaixonante conviver diariamente, por seis meses, com Fernanda Torres no feed. Também foi memorável. Jamais vou esquecer o quanto me esforcei para ficar acordado naquela madrugada. Ainda Estou Aqui sonolento.
O fato é, carnavalesco ledor, nessa newsletter, na ventura e na desventura, carnaval sempre deu pano pra manga. Devidamente cortada depois que adquiri minha primeira camiseta regata, confira comigo logo após esse parágrafo. Você também precisa saber da piscina na nova temporada de White Lotus. E mais: Efeitos Colaterais, uma série de animação sobre cogumelos e a cura de qualquer doença. Menos pro amor. Esse não tem cura, fi. Esqueça.
Outras Considerações no ar. Enjoy dig dig joy bo boy!
1 - Minha primeira regata
Estou numa idade em que já posso falar “na minha geração”. Pois, na minha geração, a camiseta regata tinha o apelido de “Mamãe sou forte”. Alguns amigos mais criativos chamavam de “Mamãe vou ao supermercado” e até hoje não entendo o porquê. Além das crises de masculinidade que atravessamos nos anos 1980, a regata, assim como a pochete, sempre foi vista com um certo preconceito.
Confesso, caro ledor, que sempre enxerguei a regata em qualquer vitrine como um enigma estético. Uma peça que oscilava entre o esportivo e o credo que delícia: o atleta de final de semana ou o pagodeiro raiz.
Entretanto, diria Nelson Rodrigues, com esse calor de rachar catedrais, não se negocia. Chega um momento em que qualquer conceito de dignidade precisa se render a desgraça climática. E foi assim que, vesti minha primeira regata. A Luisa chamou atenção para os sovacos de fora e disse isso refresca instantaneamente. Fato.
A regata, percebi, exige uma atitude. Não basta vesti-la, é preciso carregá-la com uma certa confiança. Uma vibe “sim, estou aqui, confortável e vulnerável ao mesmo tempo”. Logo nos primeiros minutos, me senti estranho. Era como se tivesse saído de casa de pijama ou de avental. Mas logo a brisa, conforme anunciado, encontrou meus sovacos e algo mudou. Era libertador. Uma ventilação inédita. Uma experiência sensorial superior a qualquer camisa que eu já tivesse usado.
A regata, afinal, não é só uma peça de roupa. É um manifesto. Uma declaração de que o conforto venceu. De que não sou mais um jovem preocupado com julgamentos. De que aceito meu destino de “joga no coroa” (as in Resenha do Arrocha. Procure saber).
Agora, vejo que há um universo a ser explorado. Já penso nos modelos com estampas tropicais ou do Motörhead. Mas uma coisa de cada vez. Primeiro a regata, depois — quem sabe? — o short perereca.
2 - White Lotus
Ser hóspede do luxuosíssimo White Lotus Tailândia é acordar e o café já servido com frutas frescas, pães variados e quem sabe, um prosseco ou um spritz para abrir os trabalhos. Depois, curtir a praia, uma massagem relaxante ou uma sessão de meditação. Seu celular foi recolhido por alguém da equipe do hotel e está em lugar seguro. Você o receberá de volta no final de sua estadia.
Antes que o ledor ignaro pense que estou descrevendo como costumo passar minhas férias, devo informar que estamos em plena terceira temporada de White Lotus que estreou na MAX. Assim como nas temporadas anteriores, a pergunta é: como criar empatia e se importar com branquelos super-mega-privilegiados e aparentemente unidimensionais? A verdade é uma que são duas: tragédia e escolhas equivocadas.
Em especial, essa temporada traz Parker Posey. Atriz-crush, musa do cinema indie anos 1990 (Suburbia, Party Girl, Dazed and Confused). Aqui, no papel da mãe doidona e sem noção, num clima meio Narcisa ai que Tailândia. Enorme potencial de ser a personagem inesquecível da temporada, como foi a Tanya do White Lotus-Sicília.
Impressiona o fôlego de Mike White (escritor, diretor e roteirista da série) em criar tramas e personagens que se inter-relacionam. Às vezes compramos as brigas por compaixão, esperando uma volta por cima ou desejando fortemente que todos sejam atirados aos tigres na floresta. Só de tédio que não se morre.
3 - Efeitos Colaterais
Comecei naqueles pique Bloco do Sofá e vi quase tudo de uma vez. Produção de Mike Judge (Idiocracy, King of the Hill, Beavis and Butthead), "Efeitos Colaterais" (Common Side Effects) é uma série de animação adulta em cartaz na MAX.
Marshall e Frances, já foram colegas de laboratório no ensino médio, voltam a se encontrar quando descobrem um fungo com propriedades curativas extraordinárias, capaz de curar praticamente qualquer doença. Essa revelação os arrasta para uma complexa trama de conspiração, onde corporações farmacêuticas, micologistas e o governo fazem de tudo para impedir que a verdade sobre o cogumelo revolucionário seja divulgada.
Me pegou fortemente, e acredito que também vai agradar o distinto ledor, o humor afiado, a crítica social e uma trama que discute saúde, poder e ética. Descobertas científicas revolucionárias X Interesses corporativos.
Inspirada no estilo visual das animações dos anos 1990 - auge das “animações para adultos” com a faixa Adult Swin na programação noturna do Cartoon Network - as sequências surrealistas, relacionadas aos efeitos do cogu, são o ponto alto da série.
Agora, uma foto flertante da Parker Posey te convencendo a passar para a versão paga dessa newsletter. Garantia de carnaval o ano todo, hein!
ta de brinks que levou 40 anos pra tu usar uma regata??