Antes de estourar no Brasil inteiro com “Escrito Nas Estrelas”- a música do “caso do acaso bem marcado em cartas de Tarô” (olha ele aí de novo) - em 1985, Tetê Spíndola torna a viralizar graças a um certo reality que se passa em uma casa no campo.
Aqui em casa, música é artigo de primeira necessidade. Gostamos de ir até a fonte, sacar as influências, revisitar carreiras e ouvir “as canções que não se ouvem mais” como Tetê em"Cunhataí Porã”, faixa do segundo disco da cantora,“Piraretã” que, de modo inesperado, não conhecia. E foi emocionante descobrir junto com minha filha Helena esse hit escondido.
Foi começar a tocar e ela, como uma pequena bailarina, saiu rodopiando pela sala. Brilho nos olhos e sorriso largo. Lembrei na mesma hora de minha infância e da trilha sonora que embalava as manhãs na casa dos meus pais. Eles não eram tão ecléticos. Seguiam a cartilha da maioria das casas de classe média com Roberto Carlos, Maria Bethânia, Alceu Valença e ao menos um talento regional: Teixeira de Manaus.
Falecido aos 79 anos na semana passada, Teixeira de Manaus foi um saxofonista fundador de um movimento musical chamado “Beiradão” que misturava ritmos caribenhos como salsa e cumbia com forró e mais um tantinho assim de carimbó.
Suas músicas se configuram por uma base rítmica forte e uma frase em looping, às vezes de múltiplos sentidos como “Abra a sua porta deixe o meu sax entrar” e às vezes só pra morar em seu inconsciente como na auto intitulada “Teixeira de Manaus”.
Ao som do beiradão também eram as longas tardes nos igarapés. Os homens bebiam, jogavam buraco e assavam tambaqui na brasa, enquanto as mulheres também bebiam e conversavam sobre a novela da vez e histórias de família. Eu me apaixonava umas dez ou quinze vezes por minhas primas, tomava banho de rio e caçava saúvas.
Enquanto cada pedaço de minha história corre por aí, tento juntar os pedaços e observo Helena dançar pela sala. Na vertigem entre o presente e o passado, durante quase três minutos uma esperança moderada se apossou de mim.