Marianne Faithfull, ícone dos anos 60, morre aos 78 anos em Londres, cercada por sua família. Foi assim, através do algoritmo, que fiquei sabendo da partida da cantora, atriz e compositora. Ainda nem me recuperei direito do David Lynch e agora isso.
Não quero fazer dessa edição um obituário dessas perdas, mas o ledor há de concordar que, assim como cantou Caetano, tudo isso é por demais forte, simbolicamente, para eu não me abalar.
No momento, ouço em loop Broken English (1979) e me pego pensando, sem mais nem porquê, de quantas águas rolara e quantos homens te amaram, incluindo o Mick Jagger, que precisaram muito mais de você do que você deles, amiga.
Você que sempre caminhou sobre ruínas, que esvoaçava em festas, você e Anitta walking down Portobello Road through the sound of reggae, você, Godard, PJ Harvey e Nick Cave, você no Saturday Night Live, você e sua artrite, você e a morfina, você em situação de rua. “Simpathy for the Devil” foi mesmo escrita inspirada em você?
Canto agora no Karaokê das Estrelas “The Ballad of Lucy Jordan” e imagino a vida da dona de casa suburbana de 37 anos, quando cai a ficha dela de que seus sonhos de juventude não se realizaram e, presa na monotonia de suas responsabilidades diárias, planeja uma fuga para Paris e experimentar o que fazer com essa tal liberdade.
Lembro da última vez em que conversamos e achei que seria a última. Você, saindo da internação por COVID, me disse coisas como: é necessário guardar segredos, o sonho é uma aparência de imortalidade, cada nota é uma pele nova e sempre há mais por vir.
Termino de ouvir sua versão para “Working Class Hero” para constatar que a sua é tão boa quanto a do John Lennon. Sua voz rouca, de “edifício condenado”, como alguém disse uma vez, você e mais uma música sobre morte que faz a plateia chorar.
Você presente, eterna, impossível de esquecer. As Tears Go By.
Considere passar para a versão paga dessa newsletter (10 reais por mês / 50 reais por ano) e continuar essa resenha na moral.