A Morte e a Morte de Sixto Rodriguez
Documentário ganhador do Oscar sobre lenda do folk nos anos 70 continua misterioso até hoje
Na semana em que o Zé Maria ceifou, ao mesmo tempo, Aracy Balabanian e Aderbal Freire-Filho, quase não sobrou espaço para se comentar sobre o falecimento de Jesus Rodriguez ou Sixto Rodriguez ou apenas Rodriguez. Por isso, venho aqui fazer justiça.
O documentário “Searching For Sugar Man” (Malik Bendjelloul, 2012) traça os descaminhos de Rodriguez, um cantor folk de origem desconhecida e que poderia ser enquadrado em um movimento que se convencionou chamar de "Chicano Power" ou “Latin Rock”que contava com artistas como Azteca, Malo, Chango, Harvey Averne e um tal de Carlos Santana.
Nos anos 70, Rodriguez percorria o circuito dos bares de Detroit até cair nas graças de um produtor que o convidou para gravar seu primeiro disco: “Cold Fact”. Assim como a maioria dos mortais que carregam o fardo Dylanesco do esquema voz e violão, suas letras de protesto eram boas, mas não o suficiente para tocar o coração da América no claro instante e o disco flopou.
Em consequência disso, Rodriguez, de natureza introvertida, deixou a música de lado e se engajou em trabalhos sociais. E como nada no show business sai impune, com seu desaparecimento, começaram as lendas, o mito-fundador: histórias de que ele teria ateado fogo ao próprio corpo no palco, ou um tiro na cabeça, cobriu o corpo de petróleo ou (a mais normal até hoje) teve uma overdose na prisão.
Antes que divulgassem que ele gerenciava uma pousada em Trancoso com Buddy Holly, alguém teve a brilhante ideia de levar um carregamento de seus discos para África do Sul que vivia sob o regime do Apartheid (1948-1994) e o racismo institucionalizado com shows e artistas censurados e a televisão e os jornais eram vistos como uma armas de destruição em massa criadas por comunistas.
As músicas do primeiro disco de Rodriguez como “Sugar Man", “Establishment Blues” e “Cold Fact” serviam de alento para os jovens que passaram a cultuar o disco e cantar suas músicas nas violentas manifestações anti-Apartheid, enquanto várias e várias cópias eram produzidas no sigilo, Rodriguez se tornou popstar em Johanesburgo sem mesmo nunca ter pisado por lá.
Daí, o que se sucede (não vou entregar mais a rapadura) é que valeu o esforço de um jovem fã do cantor misterioso que decide dar uma de Xeroque Rolmes e encontrar o paradeiro de Rodriguez até sua consagração no encontro do artista com seu público em várias turnês de sucesso. Ao final de cada uma delas, Rodriguez voltava para sua humilde casa em Detroit onde viveu por mais de quarenta anos, até falecer aos 81 anos, em Agosto de 2023, de causas desconhecidas.
Clique na foto para assistir ao trailer: