Estamos em pleno feriado de Páscoa e Willy Wonka surge, como manda a tradição desde 1971, de bengala, sandália nuvem nos pés, abrindo sua fábrica dando uma cambalhota. Hoje, a Fantástica Fábrica de Chocolate, subsidiada com isenção fiscal, funciona em um galpão improvisado entre uma borracharia e um ferro velho na Avenida Brasil.
Para lidar com a alta do preço do cacau, consequência direta da desgraça climática e do tarifaço do Trump, além das exigências da Anvisa, Wonka reformulou suas receitas para se adaptar aos novos tempos. Hoje, seus Oompa-Loompas terceirizados, contratados via aplicativo e pagos em Pix, operam sob uma nova ordem: combinar açúcar, gordura vegetal hidrogenada, aromatizantes sintéticos, emulsificantes industriais e uma margem simbólica de 5% de cacau. Os lançamentos passam pela avaliação de um grupo de adolescentes que votam usando emojis.
Wonka lava o rosto na caixa d’água para logo depois receber as crianças enquanto pita um cigarrinho de chocolate. O bilhete dourado, outrora objeto de desejo e mistério, virou um vale-brinde do Prezunic, que Charlie Bucket conquistou com esforço, após juntar duzentas tampinhas de refrigerante. Os demais contemplados: Augustus Gloop, Veruca Salt, Mirela, João Vítor e Yasmin, foram sorteados via app do supermercado, depois de marcarem três amigos e compartilharem o post promocional nos stories. O tour, agora inclui um boné com QR Code para check-in nas redes.
A primeira parada, o lendário rio de chocolate, foi desviado de seu curso original após problemas com a vigilância sanitária. No lugar, Wonka apresenta uma nova linha de produtos “inspirados no paladar nacional”: edições limitadas de chocolate com açaí, paçoca e leite condensado. O que não era lá muita novidade para as crianças. “O importante mesmo é a experiência sensorial”, justificou.
Após os episódios traumáticos dos últimos anos que envolveram acidentes leves de alergia com crianças roxas e inchadas, expulsões por conduta imprópria pelo duto do Rio de Chocolate e uma tentativa frustrada de revenda do bilhete dourado no eBay, Wonka anunciou mudanças. Agora ele aceita parcerias com influenciadores.
No fim do passeio, Wonka chamou o obstinado Charlie para uma conversa reservada. Dentro do elevador pantográfico, num gesto simbólico, Wonka não lhe entrega a chave da fábrica. Em vez disso, entrega um plano de negócios, um microcrédito pré-aprovado e um punhado de sementes de cacau. Disse que ele venceu não por esperteza, carisma, sorte ou por ser o único que não tinha filtro de coelhinho, mas por fazer a pergunta que realmente importa: “É ou não é chocolate essa porra?”
Charlie segura os papéis com força. Em silêncio, pensa na família, no sabor perdido de um chocolate verdadeiro, um gosto que não se encontra mais nas prateleiras. Ao sair, não posta nada, nem grava reels. Respira fundo, faz o sinal da cruz, aponta com o dedo indicador pra cima, até aceitar a carona de um Oompa-Loompa motoboy, que aproveita o embalo para entregar uma caixa de ovos “sabor chocolate” no caminho.
Como naquela antiga propaganda: Compre Baton! Compre Baton! E considere passar para a versão paga (10 / 50 reais). Nos lemos no próximo domingo!
Genial